Diagnóstico errado: como diferenciar bipolaridade de borderline, TDAH e instabilidade emocional
- Ana Claudia Melo
- há 16 minutos
- 4 min de leitura

Em vários atendimentos — e até em conversas corriqueiras — já ouvi comentários como: “Acho que fulano é bipolar, ele muda de humor muito rápido” ou “Ela é muito intensa, deve ser borderline”. Também já atendi pessoas que chegaram ao consultório carregando diagnósticos equivocados, muitas vezes feitos com base apenas em comportamentos superficiais.
Eu mesma já acompanhei familiares e pacientes que sofreram por anos com rótulos inadequados, o que atrasou o tratamento, aumentou o sofrimento e criou estigmas desnecessários.
Este artigo existe porque diagnóstico não é adivinhação. É um processo técnico, cuidadoso e baseado em critérios clínicos. E poucas áreas geram tanta confusão quanto diferenciar Transtorno Bipolar, Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), TDAH e instabilidade emocional.
Por que tantos diagnósticos são feitos de forma errada?
Existem alguns motivos principais:
Semelhanças superficiais: impulsividade, irritabilidade e oscilações emocionais aparecem em todos esses quadros.
Falta de conhecimento sobre duração temporal dos sintomas — fator essencial para diferenciar bipolaridade de borderline, por exemplo.
Popularização de termos psiquiátricos nas redes sociais (bipolar, borderline, TDAH).
Autodiagnósticos baseados em vídeos curtos e conteúdos incompletos.
Estigma associado ao sofrimento emocional, o que leva as pessoas a buscarem rótulos para explicar dor que, muitas vezes, é resultado de contextos de vida.
Como alerta Marsha Linehan, criadora da DBT, “nomear incorretamente o sofrimento apenas cria mais sofrimento”.
1) Bipolaridade x borderline: a confusão mais comum
A confusão acontece porque ambos podem apresentar:
Irritabilidade
Impulsividade
Alterações emocionais
Relacionamentos turbulentos
Mas, clinicamente, são quadros completamente diferentes.
Diferença essencial: TEMPO e PADRÃO
Bipolaridade (segundo APA / DSM-5):
Episódios duram dias, semanas ou meses.
A pessoa pode estar semanas em mania e meses em depressão.
Os sintomas têm curso episódico, com períodos de estabilidade entre fases.
Há forte base neurobiológica e hereditária.
Borderline (segundo Linehan e CID-11):
Oscilações emocionais são rápidas, durando minutos ou horas.
O humor muda em resposta a estímulos externos (discussões, rejeições).
O padrão é contínuo, não episódico.
O núcleo clínico é o medo de abandono, associado à instabilidade interpessoal.
Comparação funcional rápida
Aspecto | Bipolaridade | Borderline |
Duração dos ciclos | Semanas a meses | Minutos a horas |
Padrão | Episódico | Contínuo |
Causa do humor | Interna (neurobiológica) | Externa (relacional) |
Risco | Suicídio, impulsos maníacos | Crises, automutilação, rejeição |
Entre crises | Funcionamento normal | Instabilidade persistente |
Essa distinção evita muitos erros clínicos — e muda radicalmente o tratamento.
2) Bipolaridade x tdah: quando a energia engana
TDAH e bipolaridade podem se parecer na fase de mania ou hipomania:
Hiperatividade
Distração
Aceleração do pensamento
Fala excessiva
Dificuldade de manter foco
Por isso, é comum TDAH ser diagnosticado erroneamente como bipolar — ou vice-versa.
Diferença essencial: ESTABILIDADE x CICLOS
TDAH:
Sintomas são constantes ao longo da vida.
Começam na infância.
Não há episódios.
Não há fases depressivas ou maníacas.
Bipolaridade:
Sintomas aparecem em ciclos, não de forma constante.
Podem iniciar na adolescência ou início da vida adulta.
Há períodos de normalidade entre crises.
Outra diferença importante
No TDAH, a pessoa raramente apresenta:
Grandiosidade
Impulsos perigosos de gasto
Aumento anormal de energia
Redução extrema da necessidade de sono
Esses são sinais típicos da mania.
3) Bipolaridade x instabilidade emocional: nem tudo é transtorno
A vida gera instabilidade emocional — perdas, estresse, burnout, conflitos e dificuldades cotidianas. Muitas pessoas que se dizem “bipolares” estão, na verdade:
Exaustas
Sobrecarregadas
Dormindo mal
Vivendo relações tóxicas
Sob intenso estresse profissional
Isso produz:
Irritabilidade
Oscilação emocional
Falta de paciência
Dificuldade de regulação afetiva
Mas não produz mania, não produz hipomania, nem produz crises depressivas profundas. Como diz a psiquiatra Judith Herman, “não é preciso um transtorno para explicar um sofrimento que faz sentido”.
4) Por que o diagnóstico correto é crucial?
Porque cada quadro exige uma intervenção específica:
Bipolaridade: estabilizadores de humor + TCC + rotina regulada
Borderline: DBT (Terapia Dialética Comportamental) como tratamento de escolha
TDAH: psicoestimulantes + treinamento cognitivo-comportamental
Instabilidade emocional: psicoterapia + higiene do sono + manejo de estresse
Um diagnóstico errado pode:
Levar a medicação inadequada
Piorar sintomas
Atrasar o tratamento real
Criar estigma e sofrimento desnecessário
A precisão diagnóstica é, portanto, um ato de responsabilidade ética.
5) Como a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) ajuda na diferenciação e no tratamento
A TCC contribui para:
Identificar gatilhos emocionais reais
Mapear padrões de pensamento e comportamento
Distinguir oscilações episódicas de reações do dia a dia
Reduzir impulsividade
Reestruturar crenças distorcidas
Criar rotinas de regulação emocional
Ajudar no autogerenciamento do transtorno, quando presente
O trabalho psicoterapêutico se torna não apenas diagnóstico, mas educativo e transformador.
Se você suspeita de bipolaridade, borderline ou TDAH, não caminhe sozinho(a).
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Ana Cláudia Melo – Psicóloga clínica


