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Diagnóstico errado: como diferenciar bipolaridade de borderline, TDAH e instabilidade emocional

Diferença entre borderline, bipolaridade, TDAH e instabilidade emocional

 

      Em vários atendimentos — e até em conversas corriqueiras — já ouvi comentários como: “Acho que fulano é bipolar, ele muda de humor muito rápido” ou “Ela é muito intensa, deve ser borderline”. Também já atendi pessoas que chegaram ao consultório carregando diagnósticos equivocados, muitas vezes feitos com base apenas em comportamentos superficiais.


      Eu mesma já acompanhei familiares e pacientes que sofreram por anos com rótulos inadequados, o que atrasou o tratamento, aumentou o sofrimento e criou estigmas desnecessários.


Este artigo existe porque diagnóstico não é adivinhação. É um processo técnico, cuidadoso e baseado em critérios clínicos. E poucas áreas geram tanta confusão quanto diferenciar Transtorno Bipolar, Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), TDAH e instabilidade emocional.

 

Por que tantos diagnósticos são feitos de forma errada?

 

     Existem alguns motivos principais:

 

  • Semelhanças superficiais: impulsividade, irritabilidade e oscilações emocionais aparecem em todos esses quadros.

  • Falta de conhecimento sobre duração temporal dos sintomas — fator essencial para diferenciar bipolaridade de borderline, por exemplo.

  • Popularização de termos psiquiátricos nas redes sociais (bipolar, borderline, TDAH).

  • Autodiagnósticos baseados em vídeos curtos e conteúdos incompletos.

  • Estigma associado ao sofrimento emocional, o que leva as pessoas a buscarem rótulos para explicar dor que, muitas vezes, é resultado de contextos de vida.

 

     Como alerta Marsha Linehan, criadora da DBT, “nomear incorretamente o sofrimento apenas cria mais sofrimento”.

 

1) Bipolaridade x borderline: a confusão mais comum

 

      A confusão acontece porque ambos podem apresentar:

 

  • Irritabilidade

  • Impulsividade

  • Alterações emocionais

  • Relacionamentos turbulentos

 

Mas, clinicamente, são quadros completamente diferentes.

 

Diferença essencial: TEMPO e PADRÃO

 

Bipolaridade (segundo APA / DSM-5):

 

  • Episódios duram dias, semanas ou meses.

  • A pessoa pode estar semanas em mania e meses em depressão.

  • Os sintomas têm curso episódico, com períodos de estabilidade entre fases.

  • Há forte base neurobiológica e hereditária.

 

Borderline (segundo Linehan e CID-11):

 

  • Oscilações emocionais são rápidas, durando minutos ou horas.

  • O humor muda em resposta a estímulos externos (discussões, rejeições).

  • O padrão é contínuo, não episódico.

  • O núcleo clínico é o medo de abandono, associado à instabilidade interpessoal.

 

Comparação funcional rápida

 

Aspecto

Bipolaridade

Borderline

Duração dos ciclos

Semanas a meses

Minutos a horas

Padrão

Episódico

Contínuo

Causa do humor

Interna (neurobiológica)

Externa (relacional)

Risco

Suicídio, impulsos maníacos

Crises, automutilação, rejeição

Entre crises

Funcionamento normal

Instabilidade persistente

 

      Essa distinção evita muitos erros clínicos — e muda radicalmente o tratamento.

 

2) Bipolaridade x tdah: quando a energia engana

 

TDAH e bipolaridade podem se parecer na fase de mania ou hipomania:

 

  • Hiperatividade

  • Distração

  • Aceleração do pensamento

  • Fala excessiva

  • Dificuldade de manter foco

 

      Por isso, é comum TDAH ser diagnosticado erroneamente como bipolar — ou vice-versa.

 

Diferença essencial: ESTABILIDADE x CICLOS

 

TDAH:

 

  • Sintomas são constantes ao longo da vida.

  • Começam na infância.

  • Não há episódios.

  • Não há fases depressivas ou maníacas.

 

Bipolaridade:

 

  • Sintomas aparecem em ciclos, não de forma constante.

  • Podem iniciar na adolescência ou início da vida adulta.

  • Há períodos de normalidade entre crises.

 

Outra diferença importante

 

No TDAH, a pessoa raramente apresenta:

 

  • Grandiosidade

  • Impulsos perigosos de gasto

  • Aumento anormal de energia

  • Redução extrema da necessidade de sono


Esses são sinais típicos da mania.

 

3) Bipolaridade x instabilidade emocional: nem tudo é transtorno

      A vida gera instabilidade emocional — perdas, estresse, burnout, conflitos e dificuldades cotidianas. Muitas pessoas que se dizem “bipolares” estão, na verdade:

 

  • Exaustas

  • Sobrecarregadas

  • Dormindo mal

  • Vivendo relações tóxicas

  • Sob intenso estresse profissional

 

Isso produz:

 

  • Irritabilidade

  • Oscilação emocional

  • Falta de paciência

  • Dificuldade de regulação afetiva

 

      Mas não produz mania, não produz hipomania, nem produz crises depressivas profundas. Como diz a psiquiatra Judith Herman, “não é preciso um transtorno para explicar um sofrimento que faz sentido”.

 

4) Por que o diagnóstico correto é crucial?

 

Porque cada quadro exige uma intervenção específica:

 

  • Bipolaridade: estabilizadores de humor + TCC + rotina regulada

  • Borderline: DBT (Terapia Dialética Comportamental) como tratamento de escolha

  • TDAH: psicoestimulantes + treinamento cognitivo-comportamental

  • Instabilidade emocional: psicoterapia + higiene do sono + manejo de estresse

 

Um diagnóstico errado pode:

 

  • Levar a medicação inadequada

  • Piorar sintomas

  • Atrasar o tratamento real

  • Criar estigma e sofrimento desnecessário

 

       A precisão diagnóstica é, portanto, um ato de responsabilidade ética.

 

5) Como a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) ajuda na diferenciação e no tratamento

 

A TCC contribui para:

 

  • Identificar gatilhos emocionais reais

  • Mapear padrões de pensamento e comportamento

  • Distinguir oscilações episódicas de reações do dia a dia

  • Reduzir impulsividade

  • Reestruturar crenças distorcidas

  • Criar rotinas de regulação emocional

  • Ajudar no autogerenciamento do transtorno, quando presente

 

      O trabalho psicoterapêutico se torna não apenas diagnóstico, mas educativo e transformador.

 

Se você suspeita de bipolaridade, borderline ou TDAH, não caminhe sozinho(a).

 

      Diagnóstico não é rótulo: é ferramenta de cuidado. Se você percebe padrões emocionais intensos, impulsividade, alterações significativas de humor ou dúvidas sobre seu funcionamento emocional, vamos conversar. Clique no botão abaixo e fale comigo agora mesmo.

      A psicoterapia pode oferecer clareza, segurança e um caminho de autocompreensão muito mais preciso e acolhedor.

Ana Cláudia Melo – Psicóloga clínica



 
 
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