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Bipolaridade não é mudança de humor: entenda o que realmente é o transtorno bipolar

bipolaridade o que é e o que não é

 

      A palavra “bipolar” virou expressão cotidiana. Nas famílias, nas empresas e nas redes sociais, tornou-se comum ouvir: “Essa pessoa é bipolar; só pode!” Basta alguém alternar alegria e irritação no mesmo dia para receber o rótulo — rápido, leve e equivocado. Entretanto, no campo da psicologia e da psiquiatria, o Transtorno Bipolar (TB) é um diagnóstico sério, complexo e muito distante dessa oscilação emocional passageira.

      É fundamental desfazer esse mito, não apenas por rigor técnico, mas para proteger quem realmente convive com essa condição. Como nos lembram Goodwin & Jamison, dois dos maiores estudiosos do tema, o transtorno bipolar “não é um temperamento volátil — é um distúrbio de ritmo, intensidade e duração do humor, profundamente biológico e marcadamente clínico”. A definição é elegante e direta: bipolaridade é doença, não adjetivo.

 

Mudança de humor não é episódio maníaco

 

      Todos nós oscilamos emocionalmente: acordamos animados, terminamos o dia exaustos; celebramos conquistas e explodimos em irritação no trânsito. Essas flutuações fazem parte do funcionamento humano saudável.

       Já o episódio maníaco, que caracteriza o TB, é algo diferente e muito mais intenso.

Segundo o DSM-5 e a American Psychiatric Association (APA), a mania envolve:

 

  • Aumento anormal e persistente de energia, acompanhado de humor expansivo ou irritável.

  • Alterações comportamentais marcantes, como impulsividade, redução drástica da necessidade de sono, gastos excessivos e comportamentos de risco.

  • Ideias grandiosas, sensação de invencibilidade ou juízo crítico prejudicado.

  • Comprometimento funcional significativo, que afeta trabalho, relações e autonomia.

 

      O ponto decisivo é que não estamos falando de minutos ou horas de oscilação, mas de padrões persistentes e clinicamente relevantes.

 

A importância do tempo: semanas, e não minutos

 

      A psicopatologia é clara: sem o componente temporal adequado, não existe diagnóstico de bipolaridade. A mania verdadeira dura no mínimo 7 dias, segundo a APA, e frequentemente estende-se por semanas a meses. A depressão bipolar, por sua vez, costuma prolongar-se por longos períodos, trazendo prejuízo profundo para o funcionamento diário.

 

      Essa característica temporal afasta o transtorno bipolar de qualquer semelhança com temperamento difícil” ou reatividade emocional intensa. Confundir irritabilidade momentânea com mania é como confundir uma garoa com uma tempestade tropical — os fenômenos podem parecer semelhantes à superfície, mas suas causas, impactos e durações são incomparáveis.

 

O problema de usar “bipolar” como rótulo casual

 

      Rotular qualquer pessoa impulsiva ou instável como “bipolar” não é apenas tecnicamente incorreto. É prejudicial — e por vários motivos.

 

  • Desinforma: cria uma noção equivocada sobre uma condição psiquiátrica séria.

  • Estigmatiza: transforma um diagnóstico clínico em insulto ou brincadeira.

  • Banliza o sofrimento real: pessoas com TB enfrentam desafios profundos e diários, invisíveis ao olhar leigo.

  • Dificulta o diagnóstico correto: pois sintomas reais podem ser ignorados ou normalizados.

      A OMS lembra que transtornos do humor exigem tratamento adequado para reduzir o risco de suicídio, recaídas, rupturas profissionais e prejuízos funcionais. Quando tratamos bipolaridade como meme, criamos barreiras invisíveis para quem precisa de acolhimento e cuidado especializado.

 

Bipolaridade não é:

 

  • Alguém que explode emocionalmente ao longo do dia.

  • Uma pessoa intensa, criativa ou temperamental.

  • Mudanças repentinas de humor diante de frustrações cotidianas.

  • Estresse, irritação ou instabilidade emocional.

  • Borderline, TDAH ou impulsividade.

 

Bipolaridade é:

 

  • Uma condição clínica definida por episódios de mania ou hipomania.

  • Um distúrbio com base neurobiológica.

  • Uma alteração significativa na energia, comportamento e percepção de si.

  • Um quadro de longa duração, que alterna fases maníacas e depressivas, muitas vezes separadas por períodos de estabilidade.

  • Uma condição que exige acompanhamento psicológico e psiquiátrico contínuo.

 

     Como afirma Kay Redfield Jamison — pesquisadora e também diagnosticada com TB — “a mania rouba o julgamento, a depressão rouba a esperança, mas o tratamento devolve a vida”.

 

Por que essa distinção importa tanto?

 

      A distinção é vital porque o tratamento adequado depende de um diagnóstico preciso.Confundir instabilidade emocional com bipolaridade desvia a atenção de condições que realmente precisam de acompanhamento, como:

 

  • Ansiedade generalizada

  • Burnout

  • Borderline

  • Transtornos do estresse

  • Reatividade emocional acumulada

 

      Além disso, reforça uma concepção distorcida que prejudica tanto pacientes quanto familiares.

Ao educarmos sobre o que o transtorno bipolar realmente é, produzimos um ambiente mais ético, responsável e acolhedor para quem convive com a condição.

 

Quer entender mais sobre humor, emoções e saúde psicológica?

 

      Se este texto trouxe clareza e você quer aprofundar o entendimento sobre padrões emocionais, diagnóstico ou tratamento, saiba que você não precisa fazer isso sozinho.

       Agende uma sessão e converse comigo agora mesmo. É um passo decisivo para compreender sua saúde emocional com seriedade, cuidado e acolhimento.


Ana Cláudia Melo - Psicóloga clínica


 


 
 
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