A armadilha da autossuficiência: por que é tão difícil pedir ajuda?
- Ana Claudia Melo
- 29 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de jul.

Vivemos em uma sociedade que valoriza o desempenho, a autonomia e a ideia de “dar conta de tudo sozinha”. Ser independente é visto como força — e, muitas vezes, pedir ajuda é interpretado como fraqueza. O resultado? Muitas pessoas carregam o peso do mundo sozinhas, em silêncio.
Neste artigo, vamos entender por que é tão difícil pedir ajuda, como isso afeta a saúde mental e de que forma a psicoterapia pode ser um espaço seguro para romper esse ciclo e permitir o cuidado.
A cultura da autossuficiência e o medo da vulnerabilidade
A pressão social para ser forte, produtiva, “resolvida”, está por toda parte. Frases como “não dependa de ninguém” ou “chore no banho, mas não demonstre fraqueza” reforçam a ideia de que depender emocionalmente é sinal de falha.
Segundo a pesquisadora Brené Brown, autora de A coragem de ser imperfeito, a vulnerabilidade é a base da conexão humana, e não sua inimiga. No entanto, muitas pessoas internalizam o medo de serem julgadas, rejeitadas ou vistas como incapazes — e por isso evitam pedir apoio, mesmo quando estão sobrecarregadas.
O impacto de não pedir ajuda na saúde mental
A longo prazo, essa postura de autossuficiência extrema pode gerar sérias consequências:
Isolamento emocional
Burnout e exaustão psíquica
Sintomas de ansiedade e depressão
Sentimento constante de inadequação
Estudos da American Psychological Association (APA) mostram que pessoas que não se permitem apoio têm maior risco de adoecimento emocional, mesmo mantendo uma imagem de “forte”. O que falta, muitas vezes, é um espaço para simplesmente não precisar ser forte o tempo todo. A neurociência também contribui para essa compreensão: quando pedimos ajuda e somos acolhidos, ativamos áreas do cérebro relacionadas à segurança, vínculo e regulação emocional, como o sistema de recompensa dopaminérgico. Isso prova que o apoio emocional não é um luxo — é uma necessidade humana básica.
Crenças disfuncionais que nos impedem de pedir ajuda
Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), identificamos que muitos comportamentos de evitação, como não buscar ajuda, estão sustentados por crenças centrais negativas como:
“Se eu depender de alguém, vão me decepcionar.”
“Preciso mostrar que dou conta sozinha.”
“Se eu pedir ajuda, vou parecer fraco.”
Essas crenças são geralmente aprendidas ao longo da vida, especialmente em ambientes onde o afeto era condicionado ao desempenho ou onde houve negligência emocional. A boa notícia é que essas crenças podem ser ressignificadas na psicoterapia, permitindo à pessoa reconhecer suas necessidades emocionais com mais compaixão.
Como começar a se permitir ajuda?
Pedir ajuda é um ato de coragem. E pequenos passos já podem iniciar esse movimento:
Observe seus limites físicos e emocionais. O corpo dá sinais: cansaço, irritabilidade, insônia, falta de prazer.
Comece com pessoas de confiança. Abrir-se com quem oferece acolhimento é o primeiro passo para sair da autossuficiência rígida.
Permita-se receber. Nem sempre você precisa retribuir na hora. Receber cuidado é parte do ciclo humano de troca.
Busque espaços terapêuticos. A psicoterapia oferece um vínculo seguro e técnico para aprender, aos poucos, a se abrir para o apoio.
Você não precisa dar conta de tudo só
Se você tem se sentido exausta, sobrecarregada ou emocionalmente distante de si mesma, talvez esteja presa na armadilha da autossuficiência. Saiba que não há fraqueza em pedir ajuda — há força em reconhecer seus limites e se cuidar.
Agende sua primeira sessão comigo. Acolher suas dores e caminhar junto com você nesse processo é o que a psicoterapia oferece: um espaço real, seguro e sem julgamentos.
Você é uma pessoa que merece ser cuidada também.


